Eu






Chove lá fora.
O dia é de cautelosa tristeza e carrego,
junto a mim, uma garrafa
da melhor bebida que poderiam me oferecer.
Carrego junto, também, toda mágoa que achei no caminho até aqui.
Algumas são minhas, contudo, algumas são de estranhos
que por mim passaram, bem como de conhecidos que cumprimentei.
Carrego o peso de alguns amores mal vividos e resolvidos,
outros ainda nascente e a maioria amores mortos
(Acredito que estes sejam os que menos pesam na alma).
Coloco a garrafa na boca e sinto o líquido, quente e amargo,
descer minha garganta e me deixar um gosto estranho.
Esse mesmo gosto estranho sinto quando lembro de meus antigos amores.
Não mal vividos e resolvidos, nem nascentes ou mortos
Mas amores podres, amores sombrios.
Esse mesmo gosto estranho sinto quando beijo a boca de outras pessoas e não a sua.
Bebo mais.
O efeito do álcool já toma conta de mim
e a chuva muda de forma e direção.
Parece que ela me acerta através da janela
Ainda sinto o gosto estranho
o mesmo gosto dos amores, o mesmo gosto das bocas alheias.
Tento deixar tudo mais leve, no entanto mais pesado fica
mais pra baixo vou e comigo carrego a bebida, as mágoas, os amores e o futuro.
Sim, o futuro que talvez nunca irá acontecer.
O futuro que não me é de direito, já que me tornei outro
Não sou mais eu.
Sou mágoas antigas de outras pessoas
Sou amores antigos meus e de outras pessoas
Sou a escuridão de outras pessoas.
Sou eu.


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