Decesso



Uma bala acaba de atravessar meu peito
Sinto a morte chegando
Ela se aproxima de meu corpo que desagrado chora.
Não dói tanto morrer
Mantenho um semblante de paz
Enquanto vejo a escuridão se aproximando.

Caminho por um jardim de flores mortas
E dentre todas aquelas pétalas secas
E caules que já foram verdes
Meu corpo se desfaz
É levado a decomposição
Todas as camadas que um dia fizeram parte de mim
Agora pertencem a terra
São dos bichos que se alimentam
É da natureza fria.

E em todos os momentos minha alma ali presente
Assiste cada camada se desfazendo
Cada pedacinho indo embora
E só resta esqueleto
Que pra nada serve
Agora posso ir embora de verdade
Ninguém se lembrou
Ninguém visitou
Ninguém me viu.

Não pude me despedir da vida
O que foi rápido pra mim pareceu uma eternidade
E toda minha vida passando dentre meus olhos me fez chorar
Sangue, não lágrimas
Ninguém ouviu minhas últimas palavras
A não ser aquela bala de revólver que agora me acompanhava
Foi mais o acaso que outra coisa
Foi mais a sorte que outra coisa
Foi mais o azar que outra coisa
Morrer assim sem todo aquele drama que imaginei um dia
Sem todas aquelas pessoas que ali queria presente
Sem amor, amigos ou paixão
Só a bala que era minha
A única coisa que penetrou de verdade em mim
Com sentimento ou não ela era minha.


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